terça-feira, 22 de março de 2011

Something in the way


Me alimentei das palavras por você proferidas. Das horas que passaram incólumes por nossos desejos reprimidos. Seu perfil ardia contra o Sol que deslizava rápido em direção a linha que separava o céu do mar. E tão rápido o Sol se pôs que escureceu o nosso amor. Ainda posso te sentir nos átomos do universo ao meu redor e nas moléculas confusas que constituem o meu ser. Em cada vão, em cada esquina, em cada beco sem saída, eu esperava por ti...E te busquei noite adentro, nas dobras do meu corpo, no suor da minha pele, no cheiro da minha roupa que, mesmo lavando muito, ainda guarda algo de ti. Mas só encontrei um pedaço rasgado de você. A parte mais obscura e sem graça, que você esqueceu rabiscada nas entranhas do livro tombado na estante.

*

Sem pedir licença, mas com aviso antecipado, seu beijo doce - daquele doce enjoativo - desceu pela minha garganta da forma exata. Tão certeiro foi, que no momento planejado anulou em equilíbrio o gosto amargo da minha boca seca. A garoa lá de fora formada por gotas bem miúdas, parecia dançar contra o vento frio que soprava mansamente só para a gente, para completar nosso espetáculo. As gotas que se acumulavam no vidro da cafeteria, tão ingênuas e fascinantes, foram as únicas testemunhas curiosas que ousaram enfeitar nossa tarde derradeira.

*

 “Agora vá e não olhe para trás". Te levo no beijo sofrido e na imagem embaçada do olhar marejado. Porque você se move, me olha, se cala e me encara como nenhum outro. E eu, tão tonta de você, me entrego logo. Aquele gosto enjoativo me guiou até você no escuro. No abismo infinito em que você me prendeu, me sentiu, me despiu  e cuspiu sem gratidão.

*

 Mas agora corra, meu amor. É sua chance derradeira. Você está no caminho exato do meu coração. Falta pouco! Se aproxime mais e lhe estenderei as mãos, que gesticulam impacientes esperando seu contato.
 E foi assim, tão de repente, que você optou por ficar pelo caminho, parado na contramão.
Olhe a hora, agora é tarde. O tempo se esgotou. O Sol já se foi. Acaba de se pôr. Ele partiu rápido, sem dar explicação, e junto partiu sem volta o meu coração.

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Dedico este texto (que não tem nem a  metade da qualidade que eu gostaria) à @pollibud

4 comentários:

  1. Estou sem palavras... Que lindo, Helena. Que especial poder ler isso. Obrigada, viu?
    E sim, não tive como não chorar...
    Obrigada, de novo, por entender e traduzir tão lindamente tudo o que eu sinto :)
    Beijos :*

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  2. Nhaaim. Que bom. Agora me tranquilizo por saber que gostou...^^

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  3. Sabe o que é estranho no termo "parar na contramão"? É que a gente só pode parar em relação ao outro, nunca em relação ao tempo.

    As vezes, a gente quer parar; mas, se não tiver alguém para perceber isso, você continua ali, como quem não se mexesse.

    É preciso outro coração para se chegar a algum lugar; mesmo que não se vá em direção a ele. Aí, reside nossa importância, quer seja na tristeza ou no pôr-do-sol.

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  4. Nossa! Que reflexão mais linda...
    Li três vezes e fiquei sem palavras.

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