quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A palavra anônima

A primeira gota de chuva caiu no canto mais árido da terra sedenta. O chão endurecido se abria em valas quase profundas de onde brotavam ramos verdes sem graça.

A ventania furiosa anunciava a tempestade. Todos já tinham se esquecido da água, pensando que talvez ela tivesse ido cair em lugares tão distantes que havia se esquecido do caminho de volta.

 Foi no dia em que o primeiro pingo de água amansou a secura do solo que a moça duvidou do amor. Travou uma batalha tão sangrenta com as armas do coração que mal pôde crer quando ouviu o suspiro sofrido e quase sem vida de seus sentimentos. Comprimiu os lábios, cerrou os olhos com toda a força e com um gesto definitivo convenceu-se que em terra de seca as emoções não florescem.
Mas a chuva chegou de repente. As gotas tinham o diâmetro de uma bola de futebol e caíram com tanta violência que derrubaram até as nuvens que tentavam se formar no céu. Tanto foi o aguaceiro que todos pensaram que a água tinha decidido brotar do chão ao invés de cair do céu.

“Revele seu segredo que eu revelo o meu”, ele insistiu. Hesitou por um instante, mas foi categórica e negou. Ela ainda tinha as mãos sujas da barra de chocolate que tinha devorado momentos antes e mal teve tempo de limpá-las na calça jeans rasgada para o aperto de mãos da despedida.

A chuva já tinha estancado, mas a mão continuou estendida.