sexta-feira, 20 de abril de 2012

Caralho!


Ilustração de Carybé


Recordando essas coisas enquanto preparavam o baú de José Arcádio, Úrsula se perguntava se não era preferível deitar de uma vez na sepultura e que jogassem terra em cima, e perguntava a Deus, sem medo, se de verdade achava que as pessoas eram feitas de ferro para suportar tantos padecimentos e mortificações; e perguntando e perguntando ia atiçando sua própria confusão, e sentia uns desejos irreprimíveis de desandar a dizer palavrões e xingamentos como se fosse um daqueles forasteiros, e de se permitir enfim um instante de rebeldia, o instante tantas vezes ansiado e tantas vezes adiado e mandar a resignação à merda, e cagar de uma vez para tudo, e arrancar do coração os infinitos montões de palavrões que tinha precisado engolir num século inteiro de conformismo.
-Caralho! - gritou.
Amaranta, que começava a pôr a roupa no baú, pensou que ela tinha sido picada por um escorpião.
- Onde está? - perguntou alarmada.
- O quê?
_ O animal! - esclareceu Amaranta.
Úrsula pôs o dedo no coração.
- Aqui - disse.

(Trecho do livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez)


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Sumindo por uns tempos. Sentimentos rarefeitos, palavras inertes.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Poeminha de quem acaba de acordar

Joseph Ducreux


Foi  quando ela respirou serena, pensou sem querer e falou sem pensar
que a boniteza do sorriso é a mesma que reflete o olhar.
Riu de ternura e gosto esperando agradar
Mas ele entendeu bem pouco, do pouco que queria ela falar.
"Essa menina....que boba! Vou fingir um bocejar"...

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Acordei hoje com isso na cabeça.
 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Eu continuo aqui

Penny Lenna

Ele apertou a mão com toda a força, enquanto a poeira acinzentada que lhe escapava pelos dedos era levada pelo vento.

Ela assistiu a cena sem se mover. Seus olhos não tinham expressão alguma. Nenhum músculo do corpo quis reagir. Na reunião de todas as forças, uma lágrima sem graça conseguiu se formar e escorreu pelo rosto desesperadamente inexpressivo.  

A esperança, a fé, os sentimentos, os princípios cuidadosamente edificados, milimetricamente calculados durante anos...Todos levados por um único sopro de vento.

Ele vai. Ela indefinidamente ficará.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

"A soma das partes"...

Parte 1 


[...]
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais.
[...]





Parte 2


"[...] aceitar que não é possível fazer as pessoas felizes e que eventualmente não haverá nada a ser feito senão desistir de alguém e tentar de novo com outra pessoa. Uma geração egocêntrica, emocionalmente frágil e imatura, que não sabe dizer o que sente, só consegue se relacionar através de uma balança de poder e vai ter que suar muito até aprender que um relacionamento ou é bom, ou não serve."


Parte 3


O amor é o dom supremo 


I - Aos Coríntios 13:1-13
1 - Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seriacomo o metal que soa ou como o címbalo que retine.
2 - E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
3 - E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda queentregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4 - O amor é paciente, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece,
5 - Não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6 - não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;
7 - Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8 - O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas,cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9 - Porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos;
10 - Mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
11 - Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12 - Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.
13 - Agora, pois, permanece a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.

Parte 4


Assistir a partir dos 13min e 15 seg.




Parte 5

Trecho retirado de "A insustentável leveza do ser"




"Queria cuidar dela, protegê-la, alegrar-se com sua presença, mas não via nenhuma necessidade de mudar seu modo de vida. 
Assim, não queria que se soubesse que ela dormia em sua casa. O sono compartilhado era o corpo de delito do amor."

[...]

"[...]deitar com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não somente diferentes mas quase contraditórias. 
O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher)."



Parte 6

Trecho de “Os Irmãos Karamazov”, de Dostoiévski.



“Sobretudo não minta a si mesmo. Aquele que mente a si mesmo e escuta sua própria mentira vai ao ponto de não mais distinguir a verdade, nem em si, nem em torno de si; perde pois o respeito de si e dos outros. Não respeitando ninguém, deixa de amar; e para se ocupar, e para se distrair, na ausência de amor, entrega-se às paixões e aos gozos grosseiros; chega até a bestialidade em seus vícios, e tudo isso provém da mentira contínua a si mesmo e aos outros. Aquele que mente a si mesmo pode ser o primeiro a ofender-se. É por vezes bastante agradável ofender a si mesmo, não é verdade? Um indivíduo sabe que ninguém o ofendeu, mas que ele mesmo forjou uma ofensa e mente para embelezar, enegrecendo de propósito o quadro, que se ligou a uma palavra e fez dum montículo uma montanha — ele próprio o sabe, portanto é o primeiro a ofender-se, até o prazer, até experimentar uma grande satisfação, e por isso mesmo chega ao verdadeiro ódio…"