quarta-feira, 28 de março de 2012

"Como é estéril a certeza de quem vive sem amor" (ou "e há tempos o encanto está ausente")

Penny Lena


...

“Os seres materiais constituem o mundo visível ou corporal; os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, ou seja, dos Espíritos.”

“Os Espíritos são atraídos em razão de sua simpatia pela natureza moral do ambiente em que são evocados. Os Espíritos superiores se satisfazem com reuniões sérias em que dominam o amor pelo bem e o desejo sincero de receber instrução e aperfeiçoamento. A sua presença afasta os Espíritos inferiores que, caso contrário, encontrariam aí livre acesso e poderiam agir com toda a liberdade entre as pessoas levianas ou guiadas somente pela curiosidade. Em todos os lugares onde se encontram maus instintos, longe de obter bons conselhos, ensinamentos úteis, devem-se esperar apenas futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto ou mistificações, visto que, freqüentemente, eles tomam emprestado nomes veneráveis para melhor induzir ao erro.”


“Distinguir os bons dos maus Espíritos é extremamente fácil. A linguagem dos Espíritos superiores é constantemente digna, nobre, repleta da mais alta moralidade, livre de toda paixão inferior; seus conselhos exaltam a sabedoria mais pura e sempre têm por objetivo nosso aperfeiçoamento e o bem da humanidade. A linguagem dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, muitas vezes banal e até mesmo grosseira; se por vezes dizem coisas boas e verdadeiras, dizem na maioria das vezes coisas falsas e absurdas por malícia ou por ignorância. Zombam da credulidade e se divertem à custa daqueles que os interrogam ao incentivar a vaidade, alimentando seus desejos com falsas esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, no verdadeiro sentido da palavra, apenas acontecem nos centros sérios, cujos membros estão unidos por uma íntima comunhão de pensamentos, visando ao bem.”


“A moral dos Espíritos superiores se resume, como a de Cristo, neste ensinamento evangélico: ‘Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem’, ou seja, fazer o bem e não o mal. O homem encontra neste princípio a regra universal de conduta, mesmo para as suas menores ações.”

domingo, 25 de março de 2012

Sabedoria helênica em 22 lições

"Conhecer a mim mesmo para saber como modificar minha relação para comigo, com os outros e com o mundo." 

A verdade é que sempre detestei autoajuda. Quando comecei a me interessar e me envolver com o mundo da literatura, abominava o fato de esse tipo de livro estar sempre nos primeiros lugares da famosa lista dos “mais vendidos”. Há um interesse exagerado e massivo por esse tipo de informação (que não, não é literatura). Livros de autoajuda abrangem todos os aspectos da vida humana. Abordam desde problemas de cunho sexual, passando por problemas profissionais, até adentrar temas profundamente complexos, que dão conta, por exemplo, da busca pela felicidade e realização pessoal.

Enfim, nunca gostei de autoajuda. Mas, nos últimos anos, mudei um pouco o enfoque da questão. Agora me pergunto: Por que as pessoas consomem tanto esse tipo de informação? Há uma necessidade frenética e desesperada da busca pelo bem-estar, da solução imediata dos problemas, de se entender, de entender o outro.
Tudo isso parece ser uma característica inerente aos homens de hoje.

O que quero dizer é que existe um propósito para tudo isso. A autoajuda vende muito. E vende muito porque as pessoas estão perdidas e desorientadas. É cada vez mais difícil lidar com as exigências do mundo de hoje. Estamos nos dissolvendo, perdendo nossa própria essência em busca de algo que ninguém mais sabe o que é.

Baseada nessa reflexão, eu tomei uma atitude que, a primeira vista, me pareceu bastante boba. Decidi fazer um post do tipo “autoajuda”. Listei algumas lições que considero essenciais e que aprendi no decorrer dos meus 22 anos de existência. São elas:

1) O seu bem-estar deve vir em primeiro lugar, contanto que não prejudique outras pessoas.
2) O único amor que deve ser incondicional é o de uma mãe para um filho.
3) Amor é a soma dos fatores: respeito + harmonia + compreensão + confiança + companheirismo + desejo
4) A sabedoria é a mais alta das qualidade humanas (e também a mais rara)
5) Sempre, em qualquer situação, escute o que o outro tem a dizer
6) Seja sensível, empático, compreensivo e afetuoso. Em longo prazo, isso lhe trará paz de espírito.
7) Se posicione em relação as pessoas e as situações, deixado bem claro qual é a sua postura.
8) Admita seus momentos de fraqueza. Aceite e ofereça ajuda. Não se envergonhe se estiver perdido e não souber como agir.
9) Procure não ser radical em suas decisões. Aja com sensatez e sabedoria.
10) Nunca compare ou julgue as pessoas por ser quem são. Critique suas ideias e não a pessoa em si.
11) Não tome sozinho decisões que vá envolver outras pessoas.
12) Não seja austero e/ou arrogante. Mude de atitude e/ou opinião se perceber que está errado e admita seu erro.
13) Questione sempre. Não aceite tudo passivamente.
14) Você é o grande responsável por sua vida.
15) Não seja tão tolerante a ponto de se acomodar com situações frequentemente desconfortáveis.
16) Não seja obcecado, assim você sempre terá a sensação de liberdade de espírito.
17) O tempo não apaga os sentimentos. Apenas os traduz para formas menos intensas e/ou dolorosas.
18) Tenha sempre fé nas pessoas.
19) Se algo ou alguém não lhe faz bem, simplesmente afaste-se.
20) Seja impetuoso, porém prudente.
21) As pessoas têm tempos diferentes. Respeite isso. Mas não espere para sempre.
22) Seja sincero e verdadeiro em todas as situações.

sábado, 24 de março de 2012

A imagem e o poema


Imagem de hoje (meu aniversário) do Astronomy Picture of the DayThe New Moon in the Old Moon's Arms.


Qualquer feixe de luz é um descanso na escuridão.
(Desculpe, Guimarães Rosa. Não pude perder essa.)


Posso Escrever Os Versos Mais Tristes Esta Noite 

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". 
O vento da noite gira no céu e canta. 

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
 


(Pablo Neruda)

terça-feira, 20 de março de 2012

A Drummond, meu poeta


Hoje pensei em você. Penso sempre em você. Posso avistá-lo em cada olhar, em cada palavra, em cada medo, em cada tristeza, em cada amor, em cada revolta.
Não sou itabirana. Nunca estive lá. Mas sinto a dor dos que deixam seu lugar para carregar na alma a tristeza e o orgulho de ferro. 

Queria lhe dizer muitas coisas. Contar que hoje você tem uma estátua de bronze na orla de Copacabana. Ali, naquele banco, bem onde você gostava de se sentar. Os homens, insensíveis que são, só se esqueceram de colocá-lo de frente para o mar. Você riria se soubesse a quantidade de vezes que já roubaram seus óculos. E mesmo assim você permanece...quase inabalável. É óbvio. Você é uma estátua.

Eu tenho uma notícia ruim. Você não gostaria do mundo de hoje. Sei que passou pelas duas grandes guerras mundiais e sei que ainda choro quando leio "Visão de 1944". O mundo mudou, veio a globalização, vieram mais paz e mais guerra. Vieram a tecnologia, os problemas ambientais, o monóxido de carbono, o dióxido de enxofre, o tédio e a mesquinhez.

Hoje, nada mais é natural. Nem os sentimentos. Principalmente os sentimentos...
A arrogância descreveu o círculo infinito dos pensamentos repetidos. Nada é diálogo. Mas como são bonitas as palavras "ditas sem ênfase"! Mesmo sem dizer, elas devem ser pronunciadas! 
O medo construiu muros cada vez mais altos para demarcar o individualismo extremo, a sabedoria virou um punhado de livros escritos por pensadores e filósofos notáveis, que são discutidos em bares ou nos corredores das universidades. Os homens andam austeros e acomodados. O amor foi aprisionado numa jaula de ciúme, incompreensão e mediocridade. O sentimento de liberdade e pureza, que só o amor era capaz de trazer, está se esvaindo e ofuscando as mentes jovens. Julgam-nos pelo que somos, e não por nossas ideias (pois é, elas nem têm mais o acento) ou sentimentos. Já não há mais o conforto das lágrimas ou a vontade do abraço. Há um silêncio imenso que percorre a alma dos homens. Foi-se a fé e a afeição...Ficou o medo e a hostilidade. Não queria que você experimentasse esses tempos. O mundo não está mais em contato conosco. Agora ele nos invade por inteiro, nos rouba a alma, instaura a indiferença.

Penso no seu paletó surrado de funcionário público, nos seus óculos grandes e nos seus olhos miúdos. Penso em como gostaria que você me abraçasse, me acolhesse por um segundo e dissesse: "Tenha fé, minha pequena. Você é jovem e o mundo é grande. Só por agora, não seja forte.". Eu choraria e pediria que, por gentileza, recitasse para mim o "Consolo na praia"

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
_____

"Obrigada, meu poeta. Obrigada". 
Eu seguraria seu rosto e veria seus olhinhos marejados atrás dos óculos grandes.
"Está triste?"
"Só um pouco, só uma pouco."
"Tudo bem. Vamos fazer silêncio. Uma flor nasceu."



sábado, 17 de março de 2012

Do que se perde

Não que fosse uma pessoa amarga. Só tinha perdido alguma coisa muito importante. 
a fé 
a esperança 
a afeição 


...sei lá. Não sei, não sei.
Acho que era muito mundo pra pouca poesia.



sexta-feira, 9 de março de 2012

Ora (direis) ouvir nebulosas!

Apenas acessem aqui!


E eu vos direi: "Amai para entendê-las!" 
Pois só quem ama pode ter ouvido 

Capaz de ouvir e de entender estrelas


Pois é, caro Bilac, entre estrelas, poeiras cósmicas, partículas subatômicas, filamentos galácticos, neutrinos e espumas quânticas; ainda estamos nós e ainda está o amor, capaz de ouvir e de entender o intocável, inconcebível infinito.


Imagem de hoje do  Astronomy Picture of the Day. Uma imagem diferente a cada dia. Todas captadas pela Nasa.


quarta-feira, 7 de março de 2012

Contraponto

O medo se contrapondo ao amor
O Sol se contrapondo à chuva
O calor daqui se contrapondo ao frio de São Paulo
Você se contrapondo a mim

A ausência que dói
A falta que faz
o poema que traduz...

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A Antonio Candido


"Porque há para todos nós um problema sério...
Este problema é o do medo."
(Antonio Candido, Plataforma de Uma Geração)

O medo

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,

eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.

Carlos Drummond de Andrade
In A Rosa do Povo

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