quarta-feira, 7 de março de 2012

Contraponto

O medo se contrapondo ao amor
O Sol se contrapondo à chuva
O calor daqui se contrapondo ao frio de São Paulo
Você se contrapondo a mim

A ausência que dói
A falta que faz
o poema que traduz...

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A Antonio Candido


"Porque há para todos nós um problema sério...
Este problema é o do medo."
(Antonio Candido, Plataforma de Uma Geração)

O medo

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,

eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.

Carlos Drummond de Andrade
In A Rosa do Povo

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Um comentário:

  1. Não deixe o medo te abater
    Não deixe o medo vencer
    Não deixe ele comandar
    Embora ele possa existir

    A mente comanda o medo
    Mas não é tarefa fácil
    Não deixe vencer o cansaço
    A felicidade é um devido desejo

    Apoie-se naquilo que é bom
    Recorra a ajuda e ao descaso
    Sempre que quiser acalanto
    aproxime-se daquilo que acalma
    e deixe repousar sua alma....

    (eu....)


    O medo existe, mas sua existência não pressupõe sua ferocidade nem ao menos sua posição intransponível.
    Não se acanhe em buscar ajuda, não se preocupe quando descansar, permita-se fluir um pouco mais.

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