sexta-feira, 24 de abril de 2009

Quem se reconhece?



Aquele acontecimento foi rápido, muito rápido. Corriqueiro como as obrigações cotidianas e os costumes da cidade grande ordenam que seja.
Eu precisava correr, como sempre. Vesti apressadamente a "roupa de batalha", engoli qualquer coisa, escovei os dentes e pus-me a descer inabalável uma das tortuosas ladeiras que compõem a acientada geografa da minha cidade. E a desci aos tropeços, tentando concentrar-me, a todo custo , nas fórmulas e conceitos físicos lecionados pelo professor e que, irremediavelmente, haviam de estar presentes na prova aplicada na primeira aula daquele dia.

Ótimo. Tudo corria perfeitamente,cheguei com antecedência na estação ferroviária, o trem não atrasara , as fórmulas fluiam em minha mente com perfeição e pude me infiltrar com facilidade em meio à turba de trabalhadores suburbanos que lotavam o último vagão daquela composição.
Não demorou algumas estações até que eu fosse empurrada, espremida, enforcada e jogada para qualuqer lugar onde houvesse o mínimo de espaço necessário para que caiba uma pessoa. É claro que não se considerando o importuno fato de ela ter a necessidade de respirar. Mas qual a significância do sistema respiratório humano e de sua devida manutenção quando se tem uma prova de Física na primeira aula?

Estava assim, desenvolvendo um novo mecanismo de oxigenação para o corpo humano, quando atentei para a mulher ao meu lado, ou, talvez, estivesse à minha frente...não sei, nas referidas condições em que eu me encontrava perde-se totalmente os sentidos de direção. Pois bem, voltemos as precárias condições que impulsionam este texto. Não pude deixar de atentar para uma certa mulher. Não sei se isso deve-se ao fato de não haver espaço suficiente para eu direcionar a cabeça para outro lado ou se a mulher realmente foi carismática o suficiente para fazer-me esquecer a Física e concentrar-me em sua conversa com um dos homens dali.

A moça contava-lhe, sem muita vontade, sua trajetória diária e as forças rotineiras que a impediam de relacionar-se normalmente com a família (entenda-se por esta, marido e filho). Nada a que eu não estivesse metodicamente acostumada. É normal, quando se está em São Paulo ou nas cidades periféricas a esta, conviver com este tipo de coisa. Já havia até começado a memorizar, mais uma vez, algusn conceitos da termologia, quando ouvi, da referida moça, algumas palavras que causaram-me um mal-estar repentino: "Pois é, trabalho de dia e estudo à noite. Não consigo ver meu filho, não teho tempo. Ele já nem me reconhece mais. Meu próprio filho."
Aquilo abalou-me o suficiente para que me fizesse esquecer, até o final do trajeto, a avaliação na primeira aula.

Chegando à estação terminal, fui, assim como os demais passageiros, cuspida para a plataforma de desembarque onde, sem me mover, acompanhei com o olhar a tal mulher. Ainda pude vê-la caminhar até a escada de saída, onde desapareceu em meio à multidão que se atropelava.
Agora eu já não reconhecia mais ninguém. Sobre quem eu estava falando mesmo? Ah, o que importa? Eu tinha prova de Física na primeira aula.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O resto


Apertei-lhe com força em meus braços antes que ela partisse. "Não vá. Você é a única coisa que me resta."

Quando ela se foi, não me importei tanto assim. Afinal, ela era só o resto.

Considerações [2]


E hoje é sexta-feira santa!! Não se pode comer carne vermelha. O que, para mim, é um grande problema. Sempre podemos escolher entre salsicha, ovo ou hamburguer para misturar com o miojo aqui em casa, mas como ovo me da dor de barriga, então tenho que comer o miojo puro. A sorte é que meu corpo sempre teve facilidade para metabolizar substâncias sintéticas, como isopor, pasta de dente e miojo.
Apesar de tudo, eu sou a favor da sexta-feira santa. É o dia em que se da descanso aos bois. Por isso ninguém trabalha. Assim, eu posso arranjar tempo para encher esse blog de coisas que não fazem nenhuma diferença para quem lê.